
O Parto Humanizado
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Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que não sou nenhuma especialista em partos e também não sou mãe. Nunca senti na pele o que é passar por um parto, mas esse texto se baseia no que vivenciei em nascimentos que tive a oportunidade de assistir e fotografar, além de informações que acabei absorvendo de especialistas da área.
Em 2017, caí de paraquedas na fotografia de partos. Nunca na vida eu havia imaginado registrar um dos momentos mais significativos da vida de tantas mulheres e famílias, mas de repente me vi nessa situação e a aceitei. Através de uma empresa, conheci essa área da fotografia em um hospital onde mais de 70% dos bebês nascidos lá veem ao mundo por meio da cesárea.
Eu sempre achei esquisito a forma mecânica do funcionamento daquilo, como muitas mães chegavam ao hospital e davam entrada como se estivessem fazendo check-in em um hotel. Achava estranho que após a retirada do bebê, a mãe ficasse sozinha com o a equipe médica e o bebê fosse levado para o berçário, longe dela, junto com o pai (ou com quem estivesse acompanhando o procedimento). Mais estranho ainda, foi ter noção de que os lucros do hospital podem aumentar se o recém-nascido tiver que ficar na UTI neonatal, então, comercialmente falando, isso é uma coisa boa. (Qual o tamanho desse absurdo?) Lembro-me que um dia, ainda processando essa informação, disseram-me que era daquele jeito mesmo, como quem diz “é a vida, aceite!”.
Na época, tive que apenas “aceitar”. Eu não sabia nada sobre o que era o parto humanizado para responder que não precisava ser daquele jeito e não precisamos seguir esse sistema mecanizado. A necessidade de padronização e de seguir de protocolos hospitalares consequentes da alta demanda (sim, todos os dias nascem bebês, muitos bebês)[1], nos fez cair no sistema de “assistência medicalizada” que visa o “aperfeiçoamento da fisiologia do parto”[2]. Em outras palavras, intervenções são feitas em desconfiança da natureza fisiológica feminina e isso pode ter interferências na saúde física e emocional tanto da mãe, quanto do bebê.
A humanização do parto, em contrapartida, não significa deixar tudo por conta da natureza e erradicar qualquer forma de intervenção. Isso seria negar avanços médicos-tecnológicos e voltar para a seleção natural, quando só os mais fortes sobreviviam. O parto humanizado considera o poder que toda mulher tem de parir e presta assistência em prol da saúde da mãe e do bebê, interferindo quando necessário e respeitando as decisões da mulher. Não parece obvio que deveria ser sempre assim?


Sensibilidade. Acho que essa é a palavra chave para trazer alguém ao mundo em um ambiente de amor e afeto. Eu presenciei a diferença entre mulheres parindo deitada com as pernas para cima e o obstetra a incentivando a fazer força, e mulheres sendo guiadas pelo próprio corpo, seguindo seus instintos fisiológicos em posições mais naturais/confortáveis para o momento. A diferença entre o “força, o parto é força, senão nas nasce” e o “não precisa fazer força, as contrações vão trazê-la no tempo dela”, ambas as frases ditas por obstetras. Presenciei o choro desesperado de bebês sendo levados para longe da mãe, para aquecer mandatoriamente em um berço, e do aconchego do recém-nascido sendo aquecido no colo dos pais, no seio da mãe.
Acho que toda mulher que pensa em ser mãe, deveria despertar essa consciência do sistema para onde somos empurradas. Ler sobre, estudar, se possível participar de grupos de gestantes, fazer suas escolhas e não se esquecer que quando isso passar, você terá uma vida nova em suas mãos para aprender a cuidar. Por mais que vise a humanização, não crie expectativas de um parto normal, na banheira, com velas, aroma de lavanda, etc. (essa nota é inclusive para meu eu do futuro). Expectativas tendem a trazer frustrações e no fim das contas, “você quer um parto ou um filho(a)?”[3].


Quer fazer o registro documental do nascimento do seu bebê? Clica aqui e vamos conversar, adorarei saber um pouco da sua história e documentar esse momento tão importante da sua vida.
Dicas para assistir e ler:
• O renascimento do Parto: “O filme retrata a grave realidade obstétrica mundial e, sobretudo, brasileira, que se caracteriza por um número alarmante de cesarianas ou de partos com intervenções traumáticas e desnecessárias.”
• Parto Ativo – Guia prático para o parto natural: “O melhor modo de se preparar para o parto é preparando o próprio corpo.”
[1] Um pouco de estatísticas mundiais